Teatro Chico Anysio

Lançamento do Livro Diálogos Brasileiros e performance teatral

 

O livro DIÁLOGOS BRASILEIROS (Fortaleza, 2018, ed. Impressão e Selo Literário Poetaria) reúne a peça teatral BÁRBARA DE ALENCAR e PINTO MARTINS – uma conversa entre heróis, o roteiro cinematográfico ENCONTREM O BISMARCK – entre o disfarce e a desfaçatez, e o do CD FOTOGRAFIA e outras canções (bônus).

Bárbara Pereira de Alencar, Dona Bárbara do Crato, acompanhou seu filho José Martiniano de Alencar, pai do prodigioso José de Alencar, à Câmara do Crato e o viu, ante aclamação popular, destituir de seus cargos todos os monarquistas e instituir o Governo Provisório Republicano. A Revolução de 1817 instalava-se no Crato. Era 3 de maio daquele inusitado 1817.

Os revolucionários brasileiros de então visavam tomar as rédeas de seu país, interrompendo o domínio lusitano que então já era visto como usurpador, tirânico. Pretendiam alijar do poder aqueles que eram chamados pejorativamente de “marinheiros”, os que cumpriam à risca as regras ditadas pela Coroa portuguesa.

A Revolução de 1817, iniciada em Pernambuco e expandida pelas demais províncias nordestinas, teve como desaguadouro a Independência do Brasil, de 1822. Insatisfeitos com a proclamação, pois o mando continuava a ser imposto pelos portugueses e somente por eles, os revolucionários de 1817 erigiram a Confederação do Equador, em 1824, cujo chefe político era precisamente Tristão Gonçalves, filho de Bárbara, ou Tristão Araripe, conforme se autodenominou no curso de sua luta política contra os reinóis, afastando seus “apelidos portugueses” e adotando nome de matriz brasileira, extraído da Chapado do Araripe, que o fascinava desde menino.

Submetida depois ao episódio histórico denominado a Grande Marcha dos Heróis Acorrentados, entre o Crato e Fortalezas, Dona Bárbara em muito padeceu por apoiar seus filhos e demais insurgentes, sendo despossuída dos seus bens e humilhada a mais não poder, mantendo, não obstante, a veneranda senhora sua dignidade inalcançável.

Por tais feitos, sagrou-se Bárbara a heroína a que o autor da obra em comento quis associar ao Euclydes Pinto Martins.

O elo entre ambos vai se dar com a devoção ao Brasil, à independência, à liberdade. Dona Bárbara querendo nos livrar dos colonizadores, Pinto Martins oferecendo sua vida em troca de enaltecer a vocação nacional pela aviação, seguindo definitivamente os passos de Santos Dumont. Vão, Bárbara e Pinto Martins, encontrar-se ficticiamente ao serem comemorados os 100 anos de nossa Independência, em setembro de 1922, portanto (no seu raid, New York/Rio de Janeiro, o Sampaio Corrêa, hidroavião de Pinto Martins deveria pousar no Rio de Janeiro por ocasião dos festejos).

Pinto Martins deixou sua Camocim, no Ceará, para, após alguns anos no Rio Grande do Norte, para onde fora transferido seu pai, ir aos Estados Unidos. Ali formou-se engenheiro, tirou o brevê e logo foi tomado pelo sonho de cruzar as Américas em voo pioneiro. Conseguiu a tripulação e equipe cinematográfica, obteve financiamento e decolou de Nort River, em 17 de agosto de 1922.

Logo a seguir sua viagem anunciava o primeiro de diferentes atropelos que os acometeriam. Caiu o Sampaio Corrêa no mar de Cuba, logo após deixarem o espaço aéreo norte-americano. Era noite. Salvaram-se graças a lições náuticas aprendidas por Pinto Martins quando grumete no Rio Grande do Norte. Ele enviou sinais de luz usando potente lanterna que levava a bordo. Foram salvos pela canhoneira Denver, ancorada na base militar americana de Guantánamo. Os tubarões que circulavam o Sampaio Corrêa daquela feita não lograram êxito…

Quando finalmente Pinto Martins e equipe pousaram em águas brasileiras, na ilha de Maricá, no Pará, o fizeram na antessala de uma pororoca!

Ao chegarem no Rio de Janeiro, foram aclamados pela população e conduzidos pelo senador Sampaio Corrêa, incentivador do raid, presidente do Aeroclube carioca, a encontro com o presidente Arthur Bernardes. Chegava a seu fim aquela inédita aventura do intrépido Pinto Martins, herói-aviador.

Na conversa encenada, os heróis cearenses se referem a seus feitos e refletem sobre o Brasil, cantam e declamam poesias, querem que o público vivencie sua própria história.

Adiante, o livro desponta no cinema. Traz como protagonista um vingador bem brasileiro, atrás de reaver joias de sua família surrupiadas por um ambicioso empresário, que acaba envolvido com o Movimento Estudantil, o ME, no Rio de Janeiro de 1968. O empresário vilão agora via-se às voltas com dólares americanos despejados no Brasil sob a égide do combate aos comunistas.

O roteiro, que caminha sob um viés bem-humorado, engendra um Bismarck, o ator multifacetário, capaz de imitar com precisão as pessoas e suas vozes, a imprimir ao texto situações inusitadas que vão ganhando dramaticidade singular.

Para além dos trejeitos bismarqueanos, surge uma tremenda mulata carioca, a Lana, que sofre a ação do embate político-ideológico de então, na condição de atenta e, por vezes, indignada observadora. Outro a sofrer os efeitos da refrega é o Laurentino, típico operário-padrão que vê o mundo desmoronar a sua volta sem atinar com qualquer explicação.

A ação cinematográfica finda no Congresso da União Nacional dos Estudantes-UNE ocorrido em Ibiúna, São Paulo. Até lá, o roteiro faz com que suas personagens trafeguem na polarizada capital carioca, oferecendo ao espectador sucessivas surpresas bem típicas do acidentado 1968.

O livro, por fim, oferece como bônus musical o CD FOTOGRAFIA e outras canções. Os registros reproduzidos no álbum constam dos discos RUPESTRE, ESTRELAS ANÃS e O DIA DOS BICHOS, de André Lopez, além de trazerem interpretações ao vivo de clássicos de Noel Rosa, no show BRASIL SAMBA NOEL do grupo Com que Roupa?, integrado por André, levado no Espaço Cultural Oboé, em Fortaleza.

O livro em lançamento ressalta o caráter multimídia da produção de André Lopez. Esse aspecto é destacado no profícuo prefácio de Geraldo Jesuíno, que além de escritor de nomeada e gritante talento, tem editado a produção literária do autor que já conta com o romance AS AREIAS CANTANTES DO RIO e o livro de contos A LONGA TRAJETÓRIA DO ESPÍRITO. Os laureados poetas Dimas Macedo, que escreve na chamada quarta capa, e Jorge Pieiro, revisor, também fazem parte do time que logrou trazer-nos obra em busca essencialmente de exaltar o talento equânime e indelével do cearense, “aventureiro e nômade”, no dizer autorizado de um Jáder de Carvalho.

Eis que outro Jáder surge no empreendimento, no caso o Jáder Soares. Se no início de maio teremos o lançamento da obra, no final do mesmo mês está prevista a estreia da referida peça BÁRBARA DE ALENCAR e PINTO MARTINS – uma conversa entre heróis, também no Teatro Chico Anysio, dirigida pelo Zebrinha e encenada por Vevê Miranda e Erich Cardonha, atores os quais, durante o lançamento do livro, farão performance tomando excertos da obra.

Autoria: ANDRÉ LOPEZ

Local: Teatro Chico Anysio

Data: 10/05/2018

Hora: 20 horas

Performance teatral por Eveline Ceará e Erich Cardonha, com direção de Jáder Soares.

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